Foto: Regis Duvignau / Reuters Com as atuais taxas de emissões de gases do efeito de estufa, que levariam a superfície da Terra a aquecer quase três 3°C acima dos níveis pré-industriais, 90% das estâncias de esqui da Europa enfrentarão uma escassez crítica de neve natural, afirmaram pesquisadores nesta segunda-feira. Mesmo que o mundo limite o aquecimento global à meta do tratado climático de Paris de 1,5°C, um terço dos 2.234 resorts do continente ainda seriam altamente vulneráveis à escassez de neve, relataram na revista Nature Climate Change.
Neste limiar de temperatura mais baixo, os locais de esqui em altitudes e latitudes mais elevadas, como nos países nórdicos e nos Alpes franceses, suíços e austríacos, podem reduzir o risco climático através da produção mecânica de neve.
Mas isto será de pouca utilidade para resorts mais a sul e em altitudes mais baixas, de acordo com o estudo, o primeiro a ter em conta o custo e a pegada de carbono do consumo adicional de energia e água para produzir neve manufaturada.
"A produção de neve envolve investimentos e custos operacionais que expõem os resorts ao risco de fracasso econômico", disse à AFP o principal autor do estudo, Hughes François, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França.
Mesmo onde a neve artificial pode ser produzida a um preço suficientemente baixo para manter um resort aberto e gerar lucro, no entanto, também contribui para um círculo vicioso ao aumentar o aquecimento global devido às suas necessidades energéticas, mostrou o estudo.
Metade das estâncias de esqui do mundo estão na Europa, onde geram cerca de 30 mil milhões de dólares por ano e desempenham um papel fundamental na sustentabilidade das economias locais. François e colegas identificaram 18 zonas distintas, algumas dentro das fronteiras de um único país e outras de âmbito transnacional.
Menos neve, mais chuva Utilizando como referência a queda média de neve durante 1961-1990, combinaram modelos climáticos regionais com dados sobre as condições de produção de neve, bem como dados geoespaciais sobre áreas montanhosas, estâncias e pistas de esqui individuais.
O estudo analisou a forma como os resorts em toda a Europa — das Ilhas Britânicas à Turquia, e da Escandinávia à bacia do Mediterrâneo — seriam afetados por diferentes níveis de aquecimento global: 1,5ºC, 2ºC, 3ºC e 4ºC. A superfície da Terra já aqueceu, em média, 1,2ºC, amplificando condições meteorológicas extremas em todo o mundo.
Das Montanhas Rochosas aos Alpes, as estações de esqui — especialmente aquelas com altitude igual ou inferior a 1.500 metros — já enfrentam temporadas de esqui encurtadas e condições de esqui em declínio, com neve às vezes substituída por chuva. Os cientistas preveem que o planeta poderá ver o seu primeiro ano completo a 1,5ºC ou acima dentro de uma década.
“Em todas as regiões montanhosas da Europa, as futuras alterações climáticas levarão a condições de neve degradadas nas estâncias de esqui em comparação com as últimas décadas”, disse o autor principal Samuel Morin, cientista da Meteo-France e do Centro Nacional de Investigação Científica de França.
Se o mundo aquecer 3ºC acima dos níveis de meados do século XIX e sem neve artificial, 100% das estâncias de esqui enfrentariam um risco muito elevado de fornecimento insuficiente de neve — em média, em anos alternados — nos Alpes alemães e austríacos, e nos Turquia, concluiu o estudo. O valor correspondente para os Alpes Suíços é de 87%, 70% nas Montanhas Nórdicas e 91% nas Montanhas dos Cárpatos.
Se o aumento das temperaturas for mantido em 1,5ºC, a taxa de “risco muito elevado” será de apenas 4, 5 e 7% nos Alpes suíços, franceses e austríacos, respectivamente, subindo para 20 por cento nos Alpes alemães, e 48% nas montanhas nórdicas.
Foto: Regis Duvignau / Reuters
