06/05/2024 às 12h20min - Atualizada em 07/05/2024 às 04h00min

Dia Internacional da Luta contra a Endometriose: entenda os efeitos da doença que afeta a rotina de uma em cada dez mulheres no mundo

7 de maio marca o calendário de cuidados com a saúde feminina. Especialista faz levantamento sobre os sintomas e tratamentos adequados.

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Se o século XXI é o tempo de hiperconectividade, de automações tecnológicas que já facilitam o dia a dia das pessoas e de aumento do espaço para debater o bem-estar humano, há questões fundamentais que seguem tão orgânicas como a natureza; um exemplo são as dores – físicas ou psicológicas – e ninguém escapa delas. Em relação à saúde feminina, quem nunca ouviu por aí coisas como “a mulher é mais resistente à dor”? O fato é que cerca de 7 milhões de brasileiras (dados da Organização Mundial da Saúde em 2023) em fase reprodutiva sofrem com as consequências da endometriose, doença pélvica causada pelo crescimento do tecido interno do útero – o endométrio – para fora do órgão e que pode atingir ovários, bexiga, intestino e trompas, além de outras partes do corpo. Além da inflamação crônica, a condição pode levar à infertilidade, já que a maior incidência da doença acontece durante a fase reprodutiva.

“Algumas doenças femininas são diagnosticadas de forma tardia”

O médico e professor de ginecologia na Unigranrio Afya, Dr. Ricardo José de Souza, explica que assim como nos casos da síndrome de ovários policísticos e a depressão pós-parto, uma mulher com endometriose pode levar até 10 anos para ter seu diagnóstico confirmado:
“Vários fatores podem contribuir com esse atraso, como o ato de subestimar ou de interpretar erroneamente os sintomas, aliado à dificuldade de acesso a exames mais elaborados, como a ressonância magnética, ultrassonografia com preparos especiais e a centros especializados no tratamento da doença. Muitas vezes os sintomas iniciais podem ser confundidos com doenças gastrointestinais e cólicas menstruais ‘um pouco mais intensas’, contribuindo com o atraso no diagnóstico”, comenta o ginecologista.
A falta de políticas públicas específicas para endometriose e outras doenças do trato feminino também prejudicam o sucesso do controle das enfermidades. “Existem poucos serviços públicos com pessoal especializado no problema, que exige um atendimento multidisciplinar, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e médicos”, salienta Dr. Souza.

As dores não precisam ser, necessariamente, no aparelho reprodutor. Ou podem não haver.

Segundo a Associação Brasileira de Endometriose (SBE), 57% das pacientes têm dores crônicas. O Dr. Ricardo José de Souza fala que é comum que esses sintomas apareçam na adolescência no formato das temidas cólicas menstruais, que podem se agravar ao longo da vida. Ele completa:
“A dor pélvica não relacionada à menstruação também pode estar presente em muitas mulheres, assim como a dor na relação sexual. Eventualmente, sintomas urinários, como vontade de urinar súbita, dor na região da bexiga ou sintomas intestinais, como diarreia e até sangue nas fezes também podem estar presentes”. Em alguns casos, as portadoras da endometriose passam ilesas pelas dores:
“Algumas mulheres têm pouco ou nenhum sintoma, podendo ter apenas dificuldade para engravidar”, indica o especialista.

Como a endometriose afeta a vida das portadoras?

A doença influencia diretamente em atividades cotidianas das mulheres que enfrentam a condição. A ausência no trabalho e nos estudos, o afastamento da vida social e a saúde mental abalada são coisas reais para quem convive com as dores e com as consequências da endometriose.
Maria Lúcias Dias, professora de ensino infantil, conviveu com os inconvenientes da doença por mais de 30 anos. Ela relata que já deixou de participar de atividades em família, ouviu “piadas” relacionadas à situação e teve dificuldades para engravidar nos primeiros anos de casada:
“Casei com 28 anos e só consegui ter meu primeiro filho aos 38. A pressão sobre filhos ainda era uma pauta forte nos anos 80 e 90, como uma mulher casada por 10 anos ainda não tinha bebês. Fiz os exames para começar o tratamento para engravidar e descobri que tinha endometriose, todas dores e perrengues da adolescência fizeram sentido. Às vezes, eu precisava descansar um pouco no trabalho, passava mal na sala de professores e tive que ouvir que cólica era ‘gracinha’ de um colega super instruído”, relembra a professora.
O diagnóstico correto e o tratamento bem acompanhado são determinantes para o bem-estar das pacientes, feitos por investigação médica e exames clínicos e de imagem.

Quais são os tratamentos mais eficazes?

Como ainda não há métodos de prevenção contra a endometriose porque, segundo o Dr. Ricardo de Souza, “porque a causa ainda não é bem compreendida pela ciência”, as terapias hormonais e a adoção de um estilo de vida saudável são as mais aplicadas no trato às pacientes. O uso de anticoncepcionais para bloquear a produção de hormônios ovarianos, a manutenção de um peso saudável, a prática de exercícios físicos regularmente e uma dieta equilibrada são meios de controle o crescimento do tecido anormal.
O ginecologista explica que sempre é preciso avaliar a extensão da doença, a gravidade dos sintomas e a localização dos tecidos invasores para que se chegue ao tratamento ideal. Caso as medidas anteriores não sejam eficazes, a intervenção cirúrgica é uma opção válida:
“Com a cirurgia é possível, na maioria das vezes, retirar todas as lesões de endometriose e melhorar a qualidade de vida da mulher. Os hormônios ajudam a controlar o crescimento da doença, mas ainda não são capazes eliminar o implante do tecido”, conclui o especialista e professor da Unigranrio Afya.
Vale destacar que a mulher deve se atentar aos sinais do próprio corpo, se há alterações no ciclo menstrual, nos hábitos intestinais e urinários. Afinal, saber como funciona o organismo é um dos maiores aliados da qualidade de vida.
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