Para quem vive longe ou perto do litoral, estar em uma praia com certeza tem sido a vontade de grande parte dos brasileiros que têm enfrentado a onda de calor desde o fim do inverno, com temperaturas próximas ou mesmo acima dos 40ºC.
O que muita gente não sabe é que, 260 milhões de anos atrás, algumas regiões do interior do país, distantes do oceano, já foram sim banhadas por um mar. É o chamado "Mar de Irati" (veja explicação no vídeo), segundo uma pesquisa que envolveu universidades brasileiras e foi publicada na revista científica GeoHeritage em 2017 com base em fósseis encontrados em Santa Rosa de Viterbo (SP), cidade a 300 quilômetros de São Paulo, na região de Ribeirão Preto (SP).
O Mar de Irati tinha 1 milhão de quilômetros quadrados, suficiente para banhar territórios do interior de São Paulo, além dos estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, bem como territórios do Uruguai, Paraguai e Argentina. Segundo o estudo, havia praias de água salgada, limpa, clara e quente. Considerado raso, o mar tinha aproximadamente 200 metros de profundidade.
A pesquisa, que teve início ainda nos anos 1970, é assinada por geocientistas da USP, Unicamp, Unesp, UFScar, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Instituto Florestal e Instituto Geológico de São Paulo, além da Universidade do Minho, em Portugal.
Por que o mar não existe mais? De acordo com os pesquisadores, ao longo de 20 milhões de anos a água foi escoando em direção ao Oceano Atlântico após uma série de mudanças geológicas. Os cientistas citam, inclusive, indícios de que na região de Uberlândia (MG), no Triângulo Mineiro, o solo foi levantando e "expulsando o mar" em direção à foz do Rio Paraná.
Ao deixar de existir, o mar deu lugar a um solo argiloso, para depois virar um deserto e lentamente ganhar vegetação. As rochas, por sua vez, ajudaram a formar o Aquífero Guarani, maior reservatório de água do mundo. Em Santa Rosa de Viterbo, por exemplo, uma formação de água de aproximadamente 3 mil hectares chegou a permanecer antes de secar e dar lugar a um depósito de calcário.
O que sobrou do mar? Fósseis de animais marinhos e vestígios de algas ainda podem ser encontrados em áreas de mineração como de Santa Rosa de Viterbo, onde ficava uma dessas praias. No município, com a retirada do calcário, foram descobertos estromatólitos gigantes, ou seja, rochas que se formam no fundo de mares rasos a partir de microrganismos solidificados e que se acumulam.
O grupo também encontrou coprólitos, fezes fossilizadas de peixes e tartarugas, e ossos de um Mesosaurus brasiliensis, um vertebrado de 1 metro de comprimento que antecedeu os dinossauros e era parecido com um lagarto.